quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cap V - Processo de Trabalho e Processo de Produzir Mais Valia/ Item 2 (p. 210 a 223)

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No item 2 do Cap. V, lembramos que o capitalista produz porque deseja ganhar um valor maior que do que o que ele investiu na produção de uma mercadoria. Para isso, é fundamental calcular o valor do produto, levando em conta o valor dos objetos trabalhados no processo. Ao acumular jornadas, tempo de trabalho, o produto final possui um valor excedente (mais-valia), proporcionado pela força de trabalho, que executa sua capacidade mediante o pagamento do valor dos meios necessários para sua subsistência, apesar de trabalhar mais que o necessário para viver. O tempo de trabalho, para gerar mais-valia, tem de estar de acordo com o socialmente estabelecido, executado sem desperdiçar material e meios de produção. Marx demonstra que esse processo, o processo de valorização, não é nada mais que o processo de formação de valor prolongado além do ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente. Quando passa desse ponto, torna-se em um processo de produzir mais-valia.
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2. O PROCESSO DE PRODUZIR MAIS-VALIA

O produto — a propriedade do capitalista — é um valor de uso. Esse valor de uso não é, de modo algum, algo feito por paixão a ele mesmo, mas porque é portador do valor de troca, produzido com dois objetivos: 1) quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, uma mercadoria; 2) quer produzir uma mercadoria de valor mais alto que a soma dos valores das mercadorias exigidas para produzi-la (os meios de produção e a força de trabalho), pelas quais adiantou dinheiro no mercado. Assim, o capitalista quer produzir valor de uso, valor e mais-valia.

Como a própria mercadoria é unidade de valor de uso e valor, seu processo de produção tem de ser unidade de processo de trabalho e processo de formação de valor. Nesse processo, agora tratado simultaneamente, faz-se necessário calcular o trabalho materializado no resultado do produto.

No preço de um objeto A que, trabalhado, resultou num produto acabado B, já existe o trabalho exigido para sua produção. O tempo de trabalho exigido para a produção de B é parte do tempo de trabalho exigido para a produção de A, matéria-prima contida no produto acabado A.

Na medida em que o tempo de trabalho exigido para produção é considerado, os diferentes processos particulares de trabalho separados no tempo e no espaço podem ser considerados como fases sucessivas do mesmo processo de trabalho.

Todo o trabalho contido no objeto de trabalho que serve de matéria-prima em outro processo é trabalho passado. Pode se considerar o tempo de trabalho contido no material de trabalho e nos meios de trabalho como se tivesse sido gasto numa fase anterior do processo de trabalho, antes do trabalho finalmente acrescentado.

Assim, os valores dos meios de produção formam partes integrantes do valor do produto. Só duas condições têm de ser preenchidas. 1) os objetos de trabalho devem ter servido à produção de um valor de uso, que carrega valor; 2) pressupõe-se que apenas o tempo de trabalho necessário, o trabalho médio social da produção, foi aplicado.

Na medida em que o trabalho é formador de valor, não se distingue em nada de qualquer outro trabalho específico. Devido a essa identidade que um processo de trabalho como, por exemplo, plantar algodão, fazer fusos e fiar, podem formar partes quantitativamente diferentes do mesmo valor total, no caso, do valor total do fio. Logo, não se trata da qualidade ou natureza específica do trabalho, mas apenas de sua quantidade.

Para calcular esse trabalho, pressupõe-se que ele é trabalho simples, trabalho social médio. 1 hora de trabalho é gasto da força vital do trabalhador durante 1 hora, objetivado no produto.

Conclui-se que, no processo sob o ponto de vista da formação de mais-valia, a matéria-prima funciona como algo que absorve determinada quantidade de trabalho. Por meio dessa absorção, transforma-se, de fato, em produto final, que mede agora apenas o trabalho absorvido pelo objeto de trabalho.

Agora, determinadas quantidades de produto representam nada mais que determinadas quantidades de trabalho, massa de tempo de trabalho solidificado. Somente materializam X horas ou Y dias de trabalho social.

Analisando a dinâmica do processo de valorização de perto, temos:
O valor diário da força de trabalho é de 3 reais, objetivada meia jornada de trabalho, o que significa que os meios de subsistência necessários para produzir, por dia, a força de trabalho custam meia jornada de trabalho. Mesmo que apenas meia jornada seja necessária para mantê-lo vivo por um dia, isso não impede o trabalhador de trabalhar uma jornada inteira.

A manutenção (ou trabalho passado) que a força de trabalho contém, e seu gasto diário (ou trabalho vivo) que ela pode prestar são duas grandezas diferentes. A primeira determina seu valor de troca, a outra forma seu valor de uso.

Pode-se concluir, portanto, que o valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são distintos, fato que o capitalista sabe ao comprar a força de trabalho. Sua propriedade útil era apenas uma condição para tal, pois o trabalho para criar valor tem de ser despendido em forma útil. E o valor de uso específico dessa mercadoria é fonte de valor, e de mais valor do que ela mesma tem.

O vendedor da força de trabalho, como o vendedor de qualquer outra mercadoria, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso, agora pertencente ao comprador. Este paga o valor de meia jornada de trabalho para manter diariamente a força de trabalho. Acontece que ela consegue operar por uma jornada inteira, e, por isso, o valor que sua utilização cria durante um dia é o dobro de seu próprio valor de um dia. Ainda que essa dinâmica configure uma vantagem ao capitalista, ele não comete uma injustiça contra o vendedor da força de trabalho, pois paga o suficiente para a subsistência do trabalhador.

O capitalista projeta que seu trabalhador interaja com meios de produção necessários para um processo de trabalho de uma jornada integral, não de metade. Ao fim do processo de trabalho, estarão objetivadas mais de uma jornada de trabalho: as dos objetos de trabalho (matérias-primas ou produtos transformados no processo) e a absorvida pelo produto final.

A fim de ilustrar a dinâmica, consideremos 2 horas de trabalho = 1 reais ou 6 horas de trabalho = 3 reais. Consideremos também uma jornada de trabalho de 12 horas. Duas mercadorias, A e B, foram produzidas em 2 jornadas, cada uma, somando, portanto, 4 jornadas = 48 horas (4x12) = 24 reais. O capitalista, para produzir a mercadoria C, compra os bens A e B e força de trabalho por 1 dia, pagando o valor que ela custa no mercado: 3 reais ou meia jornada, que é o valor necessário para sua subsistência por 1 dia.  Gasta, portanto, 27 reais. O processo de trabalho para produzir C leva uma jornada, 12 horas. Logo, o produto C incorpora as jornadas de A e B, 48 horas, mais a jornada do processo mais recente, 12 horas, somando 60 horas = 30 reais. Surgiram do processo 3 reais excedentes, a mais-valia.

Vê, então, que o desejo do capitalista se realizou. O dinheiro que ele adiantou se transformou em Capital.

Todo esse seguimento, a transformação de seu dinheiro em capital, se opera na esfera da circulação e não se opera nela. Por meio da circulação por ser condicionado pela compra da força de trabalho no mercado. Fora da circulação, pois ela apenas introduz o processo de valorização, que ocorre na produção.

Ao converter dinheiro em mercadorias que servem de objeto de um novo processo de trabalho, incorpora-se força de trabalho viva à objetividade morta em capital (trabalho morto ou trabalho passado) e, por isso, o valor do trabalho morto se amplia.  Logo, o processo de valorização não é nada mais que um processo de formação de valor prolongado além do ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente.

O trabalho, seja contido nos meios de produção, seja acrescido a eles pela força de trabalho, somente conta por sua duração (horas, dias etc.) na medida em que o tempo gasto na produção do valor de uso é o socialmente necessário, o que a sociedade estabelece como médio. Um tempo excedente não geraria valor em dinheiro. Para evitar isso, o capitalista 1) deve garantir  estrutura para tal, equipar a produção com que o se estabelece socialmente; e  2) deve considerar o caráter normal da própria força de trabalho, um grau médio habitual de esforço. Além disso, o capitalista é vigilante para que material e meios de trabalho não sejam desperdiçados.

A diferença entre o trabalho criador de valor de uso e o trabalho criador de valor apresenta-se como diferentes aspectos do processo de produção.

Como unidade do processo de trabalho e processo de formação de valor, o processo de produção é processo de produção de mercadorias. Como unidade do processo de trabalho e processo de valorização, é processo de produção capitalista.

Não importa ao processo de criação de mais-valia se o trabalho apropriado pelo capitalista é simples, social médio ou mais complexo.  Nesta esfera, o trabalho que se considera superior é o que possui os custos mais elevados, que requer mais tempo de trabalho e, portanto, tem mais valor que a força de trabalho simples, gerando também valor mais elevado que os do trabalho simples. No entanto, esse trabalho superior tem de ser reduzido a trabalho social médio, (uma jornada de trabalho superior a X jornadas de trabalho simples).

No entanto, vale lembrar que, qualquer que seja a diferença entre o trabalho do engenheiro e do gari, a mais-valia é um excedente apenas quantitativo de trabalho.

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